No evangelho de João, ocorre curiosamente que Jesus, várias vezes, se declara: EU SOU. Eu sou o pão da vida, eu sou a luz do mundo, eu sou o bom pastor, eu sou a ressurreição e a vida... A um certo ponto, diz: "Quando vocês tiverem elevado o filho do Homem, então saberão que EU SOU". Essa expressão "eu sou" pode passar despercebida a alguém desavisado, sem perceber algo da riqueza que ela exprime. Por que Jesus insiste em se identificar como EU SOU?
É claro que Jesus falava a pessoas que conheciam bem as Escrituras. O povo judeu estudava bem a lei de Moisés e os Profetas, as Escrituras da antiga aliança. Facilmente, recordavam como Deus tinha se apresentado a Moisés. "Eu sou o Deus do teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac, o Deus de Jacó". Foi naquele episódio da sarça ardente. Deus revelou a Moisés: "Eu vi a opressão do meu povo no Egito. Eu ouvi o grito de aflição diante dos seus opressores. Eu tomei conhecimento de seus sofrimentos. E desci para libertá-los". Moisés perguntou pelo seu nome. Deus respondeu: Eu sou aquele que sou.
Eu sou pode também ser traduzido como eu estou. Deus, como se mostrou a Moisés, é alguém que está preocupado com o seu povo, que desceu para livrá-lo da mão dos egípcios. Ele é o Deus que ouve os clamores do seu povo, que vem para livrá-lo. E envolveu Moisés nessa sua missão salvadora. Você vai responder assim aos israelitas: Eu sou me envia a vocês. Notaram? Eu sou me envia a vocês. Eu sou é o nome de Deus, é o jeito de Deus ser.
Jesus, se atribuindo essa expressão EU SOU, está dizendo ao seu povo que ele vem de Deus, que ele tem parte com Deus, que ele é Deus. E o é igualzinho ao Deus de Israel que desceu para libertar o seu povo do Egito. Que, como ele, vê a opressão, ouve o grito do sofredor, conhece o sofrimento de sua gente. E toma partido para salvá-lo. Esse modo de falar de si e de sua missão o coloca no clima do êxodo, da páscoa. Ele é o envido do Deus da páscoa.
E como entender aquela expressão: "quando vocês elevarem o filho do Homem, então saberão que EU SOU". É fácil. Elevar o filho do homem é uma referência à crucifixão. A cruz é o lugar da manifestação cabal de Jesus. É na cruz que ele se mostra o filho obediente e onde Deus se mostra o amoroso pai que nos envia seu filho para nos libertar. Na cruz também ficam patentes nossa arrogância, a violência de nossas atitudes, o pecado que nos domina e nos volta contra Deus. Lá na cruz, podemos reconhecê-lo no seu imenso amor por nós, pedindo perdão ao Pai por nós, dando-nos sua mãe por mãe, entregando-se por nós ao Pai. Quando vocês elevarem o filho do homem, então saberão que EU SOU. Ele é o enviado do Deus do êxodo, que se importa conosco, que desceu para nos livrar da escravidão do pecado, do mal e da morte.
Pe. João Carlos – 12 de abril de 2011
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