Mensagem de Dom João Carlos Petrini, Presidente da
comissão episcopal pastoral para Vida e Família da CNBB
BRASILIA,
quarta-feira, 18 de julho de 2012 (ZENIT.org) - Publicamos a
seguir mensagem enviada por Dom João Carlos Petrini, Bispo de Camaçari,
Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para Vida e Família da CNBB e
Vice-Presidente do Pontifício Instituto João Paulo II para Estudos sobre
Matrimônio e Família – seção brasileira, sobre a situação da defesa da vida no
território brasileiro.
***
“Eu vim
para que tenham vida e a tenham em abundância.”(Jo 10,10)
Prezados
irmãos e irmãs,
Durante a
última Assembleia Geral da CNBB, ao comentar a decisão do Supremo Tribunal
Federal (STF) relativa à legitimidade do aborto de crianças portadoras de
anencefalia, foi decidido que a Comissão Episcopal Pastoral para Vida e Família
(CEPVF) iria elaborar, com a participação do Conselho Episcopal Pastoral da
CNBB (CONSEP), uma proposta para responder aos desafios que estavam
evidenciando-se naquela circunstância. Na realidade, no cenário da sociedade e
da cultura atuais, apresentam-se diversas formas de desrespeito e agressão à
vida humana, que clamam ao céu (cf. EV 9; Gn 4, 9-10; Mt
23, 35) e que exigem dos pastores e fiéis das comunidades católicas uma
resposta orgânica, sistemática e propositiva.
De fato,
não é suficiente apenas evitar a aprovação de leis contrárias à vida e repetir
normas que proíbem ações contrárias. Mesmo sem essas leis, a vida humana é
quotidianamente ferida. Por outro lado, nossa tarefa de cristãos é valorizar o
respeito, a promoção e a defesa da vida, quer com uma legislação favorável,
quer contrária. Somos chamados a despertar sentimentos e atitudes de atração,
de fascínio, de amor que acolhe e valoriza a vida, pela sua beleza, porque é o
maior dom que recebemos do Criador.
Recordemos
algumas situações:
a- O STF
liberou o aborto de crianças portadoras de anencefalia.
b- Está
em discussão o Projeto de Reforma do Código Penal que inclui entre suas normas
a legalização do aborto, da eutanásia, da profissão de prostituto/a, entre
outras.
c- O
Ministério da Saúde está elaborando um modo de “diminuir os danos” à saúde da
mulher, provocados por abortos clandestinos, legitimando e amparando, de fato,
a realização do aborto, mesmo que a lei o considere crime (http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1100945-governo-estuda-adotar-medidas-de-reducao-de-danos-para-aborto-ilegal.shtml).
d-
A fecundação artificial (dita assistida) dá origem a uma nova vida em
situação indigna de um ser humano. De fato, o novo ser não nasce de uma relação
de amor, mas em laboratório. No entanto, cada ser humano tem o direito de
nascer de um ato de amor entre um homem e uma mulher. Além disso, para cada
gravidez encomendada, são produzidos diversos embriões (de 5 a 8), sendo
aproveitados os mais bem sucedidos e destruindo os outros.
e-
Centenas de adolescentes e de jovens, toda semana, perdem a vida por causa das
guerras que se travam ao redor das drogas.
f- São
alarmantes as situações de violência que afetam crianças, idosos, mulheres e
agora também homens, em ambientes domésticos.
A lista
poderia estender-se ainda muito mais.
O que
está acontecendo com a nossa sociedade?
Muitos
pensavam (alguns ainda pensam) que a sociedade moderna não precisa de religião,
que as novas gerações poderiam realizar-se e conseguir sucesso e bem estar mais
agilmente, ignorando a luz de Cristo e a sabedoria do evangelho, ignorando
também o ideal da vida fraterna e da caridade que respeita e acolhe o outro.
Foi desvalorizado o entendimento segundo o qual a vida encontra realização e
felicidade fazendo o dom sincero de si para o bem e a felicidade de outros, até
com o sacrifício próprio (na família, na vida consagrada, na profissão, na
política) (cf. Jo 10, 25; 15, 13; Lc 17, 33). Prevalece, agora, o
privilégio dado ao próprio bem estar, mesmo com sacrifício dos outros (o aborto
de um filho com anencefalia vai nesta direção). A vida humana é avaliada
pela sua utilidade, sendo descartada quando exige dedicação de tempo e de
dinheiro, considerada mais uma mercadoria do que algo sagrado. A postura que a
Igreja muitas vezes usou de proibir certas práticas ou condenar certas atitudes
não tem o efeito esperado. Pelo contrário, parece que suscita irritação e
distanciamento. É necessário empreender uma grande educação popular, no
horizonte da nova evangelização (cf. DGAE 2011-2015, p. 9), de modo que cada
leigo engajado possa discernir as propostas e as situações que contradizem o
Evangelho e o verdadeiro bem do ser humano, e seja capaz de dar as razões (cf. 1P
13, 15) pelas quais rejeita certas opções e se decide por outras.
A CEPVF,
em comum acordo com o CONSEP, propõe a criação de Comissões de Respeito
Promoção e Defesa da Vida em cada diocese, e, sempre que possível, em cada
paróquia, organizadas pela Igreja, com a finalidade de:
a-
Compreender as formas de agressão e desrespeito à vida que acontecem no
território nacional, da diocese ou da paróquia.
b- Dar
visibilidade a esses problemas na imprensa local, nas rádios comunitárias, ou
através da elaboração de uma específica publicação.
c-
Procurar evidenciar as razões para defender e promover a vida que possam ser
aceitas inclusive por parte de quem se declara sem religião, na base da razão
natural que compreende a dignidade da vida e reconhece os direitos universais.
d-
Oferecer às próprias comunidades uma formação enraizada na Palavra de Deus e na
Doutrina Social da Igreja, de maneira que cada um se torne um militante da
defesa e da promoção da vida (cf. Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora no
Brasil - DGAE - 2011-2015, n. 67).
e-
Promover debates públicos, bem como nos meios de comunicação que são
acessíveis, para criar mentalidade.
f-
Estabelecer parcerias com Escolas públicas e privadas, através da elaboração de
textos, vídeos e outros meios didáticos que visem à formação das crianças e dos
adolescentes. Promover concursos de desenho, redação e outros, tendo como tema
a defesa e a promoção da vida, especialmente por ocasião da Semana Nacional da Vida.
g-
Suscitar debates nas câmaras municipais, nas Assembleias Legislativas, com a
finalidade de sensibilizar um segmento da população mais difícil de ser
atingido e que em geral influencia muitas pessoas.
Na medida
em que nas maiores cidades de um Estado estão constituídas Comissões de
Respeito, Promoção e Defesa da Vida, será fácil constituir uma comissão de
nível estadual, com a participação de representantes de outras religiões,
professores universitários, políticos etc.
Trata-se
de defender a vida humana não somente contra as tentativas de ampliar a
legitimidade de abortar, mas de promover a vida humana em todas as situações
nas quais é ofendida e é ferida a sua dignidade inviolável (cf. DGAE 2011-15,
n. 66 e 69). Basta lembrar as situações de trabalho escravo, de miséria extrema
e fome, de abandono de crianças ou de idosos, de tráfico de pessoas, abuso de
menores etc.
A CEPVF
elaborou algumas sugestões práticas para a constituição das Comissões nas
Dioceses e nas Paróquias. Essas sugestões são publicadas no subsídio “Hora da
Vida”, nas páginas finais. Pedimos aos bispos, padres e leigos que tomem a
frente desse movimento de evangelização e de educação popular que visa defender
e promover a vida, sempre que é desrespeitada e oprimida, de modo a motivar
lideranças qualificadas capazes de levar adiante com generosidade e com
criatividade esta proposta.
Existem
outros subsídios já elaborados que podem auxiliar, especialmente na etapa
inicial da implantação da Comissão. A CEPVF está à disposição para auxiliar e
orientar em tudo o que for possível.
Dom João
Carlos Petrini é Bispo de Camaçari, Presidente da Comissão Episcopal
Pastoral para Vida e Família da CNBB e Vice-Presidente do Pontifício Instituto
João Paulo II para Estudos sobre Matrimônio e Família – seção brasileira.
Contatos
- e-mail: vidafamilia@cnbb.org.br; familia@cnbb.org.br;
secren@cnpf.org.br;
tel.: (61) 3443-2900; (61) 8155-5631; (61) 2103-8300
Nenhum comentário:
Postar um comentário